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sexta-feira, 22 de junho de 2012

"Amaldiçoados" - (Conto de Minha autoria)

Saudações, noturnos!!

Faz um tempo que não publico um conto novo de minha autoria aqui no blog, porém chegou a hora!!

O conto que estou postando é intitulado "Amaldiçoados".

Faz exatamente um ano que o escrevi para enviar para uma seleção de contos de uma editora nova, porém a mesma nunca apresentou o resultado da seleção, e sequer alguma outra notícia, por isso, depois de  tanto tempo, decide postar para vocês lerem.

 
Peço por gentileza que não utilize em sites, blogs ou impressos o conto sem minha permissão.

Espero que gostem!!

Quem quiser, me siga no twitter: www.twitter.com/kamposss

No início era apenas meu inimigo, logo tornou-se meu alimento!


Kampos


  A noite era plena e pela sua experiência tinha total noção de que aquele horário não era o melhor para caçar, na verdade, ia contra a primeira regra que aprendera: “Assim como a noite é dominada por eles, o dia a nós pertence”.
Mas hoje era diferente, não poderia esperar, e nem mesmo queria aguardar o amanhecer para ai sim encontrar e eliminá-los no momento em que estivessem mais vulneráveis... Tinha que ser está noite de qualquer jeito!
Sabia aonde ir, onde estavam seus alvos, e pouco importava outros da mesma laia, iria focar naquelas criaturas em especial.
Subia rapidamente pela rua com passos firmes, convictos e sem demonstrar mínimo cansaço pelo esforço.
Estava acostumado e preparado para aquilo. Era um caçador nato, algo passado como herança, seguia gerações. Seu pai fez questão de iniciar sua preparação desde cedo. Muito rígido, sempre cobrava por total disciplina e atenção e não havia um só dia que não o lembrasse das regras e de suas responsabilidades como futuro caçador. Sua infância foi em meio a livros teóricos de caça e técnicas de combate.
Eram considerados os bonzinhos da história, mas se presenciassem o momento derradeiro do confronto, muitos ficariam na dúvida para quem torcer. Não podiam ter piedade, compaixão, e nem mesmo um segundo de hesitação. Assim como os monstros que caçavam, deveriam ser impiedosos, brutos, e ter como objetivo apenas eliminar e nada mais.
Os anos intermináveis de caça o deixaram frio, com aparência desgastada, cansada, nem mesmo aparentava ter apenas trinta e quatro anos, mas era sua missão e por mais sacrificante que fosse não abria mão de cumpri-la sempre que necessário.
Para muitos, ele e vários como ele, não existiam, eram figuras imagináveis, assim como os seus alvos, as criaturas que não vivem, mas que também não estão mortas, que caminham pela noite aterrorizando com seus longos caninos e que almejam apenas uma coisa, o sangue de suas vítimas, chamados por alguns de sanguessugas, porém mais popularmente conhecidos como os lendários vampiros.
Sua mãe nunca soube da identidade de caçador do marido, e muito menos imaginava que o próprio filho era preparado para assumir seu lugar anos depois. Está era mais uma regra imposta para aqueles como ele e que seu pai fazia questão de adverti-lo. Não deveriam nunca revelar a identidade de caçador, nem mesmo para a própria família, apenas para o primogênito que assumiria a posição. Talvez por isso a maioria se tornava solitário, se fechando, suprimindo as próprias emoções, e só possuindo o desejo de concluir seus deveres.
Assim como existiam tais criaturas, existiam seus caçadores, e ele fazia parte deste seleto grupo. Não era tarefa para qualquer um, e muito menos um fardo fácil de ser carregado. Nascera já predestinado para isso, com uma missão já traçada e um destino a cumprir. Desde crianças, todos os futuros caçadores são treinados a acreditarem e a encararem tais monstros que usam de suas feições humanas, e muitas vezes, de pura inocência para ludibriarem e assim dar o bote fatal. Não eram poucas as histórias que crescera ouvindo de corajosos caçadores experientes que sucumbiram aos truques ardilosos desses seres da escuridão.
Com dezesseis anos foi colocado frente a frente com uma criatura. Seu próprio pai, seu tutor e maior exemplo, elaborou a armadilha para que o filho enfim provasse seu valor. Deveria mostrar que estava pronto para assumir seu lugar algum dia. Tremeu, pensou em fugir, e quis chorar frente ao perigo, porém, conteve-se e recusou a demonstrar fraqueza diante do olhar de seu pai, de quem almejava por aprovação. Graças ao treinamento desde muito novo, superou o desafio e pela primeira vez teve certeza que deixara seu pai orgulhoso. Dois anos mais tarde quis o destino que seu pai falecesse, mas não antes que, no leito de morte, passasse a tarefa oficialmente para o filho. A partir daquele mórbido momento tornava-se o novo caçador e foi obrigado a prometer que continuaria a linhagem de caçadores da família, e que seu futuro neto seria colocado em treinamento logo cedo para um dia assumir também seu lugar.
Seu pai sempre deixou claro que nunca deveria baixar a guarda ou por um instante acreditar que aquelas criaturas ainda eram humanas. A imagem era apenas uma carcaça que camuflava o verdadeiro demônio. Depois de sua morte, em toda caçada tinha certeza de que seu pai estava ao seu lado, gritando, advertindo e chamando sua atenção.
Tantas passagens do passado cruzavam por sua mente enquanto caminhava que nem reparara com que rapidez se aproximava da residência. Deveria ir com maior cautela a partir dali. Não queria chamar a atenção.
Já avistava a casa no final da rua. E em sua mente, escutava a voz de seu pai o obrigando a repassar exaustivamente todas as regras que deveria seguir. “Atenção”, “frieza” e “foco” eram palavras muito presentes em sua vida de caçador. Por mais que fizera isso centenas de vezes, sentia naquele momento seu coração disparar. Isso não era bom.
Não poderia deixar transparecer qualquer emoção, deveria ser como uma rocha, senão daria brecha para seus inimigos, mostraria fraqueza e um ponto a ser explorado contra ele.
Parou por um instante assim que pisou no gramado da frente da residência. Primeiro olhou para os dois lados. A rua estava deserta. Nenhuma alma viva, nenhum ser morto à vista. Em seguida, observou a construção de dois andares. Aparentemente uma casa normal, fachada branca, de médio porte, mas o que importava mesmo estava em seu interior, criaturas da noite que espreitavam a espera de uma vítima.
Caminhou até a porta de entrada. Bem devagar girou a maçaneta evitando assim qualquer rangido. A mesma foi aberta vagarosamente.
Retirou da cintura uma espada brilhante, longa e afiada, pura prata. Lâmina lendária que assim como sua missão também passara pelas mãos de seus antepassados, e com certeza também pelo pescoço de diversos sanguessugas durante os séculos. Tal arma era mais eficaz para a missão daquele momento. Se os vampiros estivessem em repouso, a estaca e um martelo seriam úteis, porém, despertos e prontos para um combate, a espada lhe daria maiores vantagens.
Olhou com atenção todo o ambiente da sala. Tudo revirado, destruído. TV jogada em um canto, sofá tombado e cacos de vidros para todos os lados. Não era mais uma casa habitável. Agora era simplesmente um covil. Ambiente em total breu, e como já imaginava, as lâmpadas todas foram destruídas. Tinha um ponto que o ajudava. Conhecia bem o local, sabia onde ficava a cozinha, os dois quartos e os banheiros.
Silêncio... Nenhum som de passos, nada, mas tinha certeza que estavam ali, e deveria se comportar como eles, silencioso, escondendo o máximo de sua presença.
Encontraria naquela residência pelo menos dois vampiros, e esperava que mais nenhum.
Quando pensou em caminhar em direção a cozinha, uma voz surgiu do nada.
  - Pensei que não viria nos visitar.
  Há muito tempo não sentia o gelo em seu estômago como no momento em que ouvira tal voz feminina. Olhou em direção de onde possivelmente viria o som. Percebeu, pelo canto dos olhos, o vulto que cruzara a porta que dava para o corredor. Apertou com firmeza a espada em sua mão e caminhou em direção que ocorrera o movimento. Eles já sabiam que estava ali, não tinha mais volta, deveria ir até o fim.
Em posição, perto do batente, estava pronto para espiar o corredor com a espada erguida caso necessitasse, mas sabia como tais criaturas eram traiçoeiras e já esperava pelo que ocorreria e, por isso teve tempo de saltar em direção ao sofá antes que o vulto maligno o pegasse pelas costas. Virou-se rapidamente com a espada pronta para o ataque, apenas a tempo de ver o alvo sumir mais uma vez. Fora em direção à escada que levava para o segundo andar. Sem pensar, e buscando manter sua mente focada apenas no que deveria fazer, saiu em disparada atrás do inimigo.
A respiração ofegante deixava claro que estava nervoso, não gostava da situação. Ele, que já se vira em apuros e em circunstâncias bem piores, pela primeira vez, temia o desfecho, temia pelo o que viria.
  - Você me quer... Venha me pegar! – A voz feminina provocava, e ria em seguida. Brincava com o seu caçador e ele sabia que tudo isso não passava de um jogo sádico em busca de atraí-lo para onde ela queria, para enfim consumi-lo.
  No segundo andar, apenas dois quartos e um banheiro. Sabia exatamente para onde se dirigir. Iria para o aposento principal, que assim como o resto da casa, provavelmente estava bagunçado e destruído. Chegou devagar à porta, já não se importando mais com o que aprendera, não tomando os devidos cuidados. Ouvir aquela voz o desestabilizou. Era em momentos de distração como este que seu pai sempre lhe chamava a atenção. “Concentração é tudo”, ele dizia. Na porta deparou-se com a imagem de uma bela mulher, de camisola branca, deitada em uma cama de casal.
  - Estava me procurando? Estou aqui, meu querido. Venha... Deite-se comigo... Sei que você quer. – O seduzia com um sorriso malicioso em seus lábios enquanto lentamente se levantava e começava a se despir de sua camisola revelando um corpo escultural, com curvas e extremamente desejável.
  Ela era linda. Mesmo com a pele pálida e o olhar frio e sem vida provocados por sua nova condição, ela ainda mantinha a beleza que sempre possuíra.
  - Venha! Me possua! – Dizia, com voz mansa, convidativa, e caminhando em sua direção totalmente nua.
Sentiu o momento em que a primeira gota de suor desceu por seu rosto. Indício que aquela situação mexia demasiadamente com sua razão. Como se não tivesse controle do próprio corpo, caminhava em direção a vampira. A espada não mais erguida e pronta para decapitar, mas sim com sua ponta voltada ao chão, sua guarda estava aberta.
  - Venha... Venha...
  Cada vez mais próximos ele já conseguia sentir o doce cheiro de sua pele e contemplar os detalhes dos cachos que se formavam nas pontas de seus longos e belos cabelos loiros.
De frente, um olhando para o outro, o caçador parecia não ter mais defesas. A encarava somente e ela se aproximava cada vez mais e o sorriso só aumentava. Seus olhos brilhavam e a cabeça já pendia para o pescoço daquele que deveria caçá-la. Próxima de mordê-lo, a vampira não resistiu e sussurrou ao seu ouvido:
  - Não há mais salvação... Estamos condenados mesmo.
  Essa frase o tirou do transe como um despertador que nos salva de um pesadelo terrível ou como os tapas que levava de seu pai cada vez que caia no sono durante os exaustivos exercícios de concentração. Arregalando os olhos e respirando fundo enquanto ouvia em sua mente as várias advertências de seu severo pai quanto a manter o foco e atenção, segurou a mulher por um dos braços a afastando por alguns centímetros evitando assim que os caninos já aparentes cravassem em seu pescoço, e de forma ágil e hábil, ergueu sua espada, e antes que seus pensamentos o confundissem mais, atravessou o peito da criatura com força, na altura de seu coração. A mesma emitiu um grito horrendo arregalando os olhos, e a feição começara a queimar, o corpo perdia forças para se manter erguido por si só, e enquanto o homem a segurava ainda pelo braço via a mulher de beleza tão intensa se desfazendo, soltando pedaços da pele, carne, sangue e ossos, se decompondo em uma massa avermelhada e fedorenta. A respiração do caçador era forte e rápida, e quando pensara em dizer algo diante do fim da vampira teve sua atenção chamada para a porta do quarto. Um pequeno vulto, parado, o encarava. Para os olhos de um leigo era apenas uma criança, um garoto que talvez acordara com os sons do quarto ao lado, porém, para os olhos de um caçador, era um monstro sedento por sangue e que se apossara de um ser inocente e infantil.
O corpo da mulher se desfez totalmente ficando apenas uma poça de gosma que exalava um cheiro podre. O homem que até então contemplava o fim da sanguessuga virou e encarou de frente a pequena figura.
  - Por que fez isso? – A voz era de criança, mas era perceptível algo maligno nas palavras.
  - Foi preciso. – A resposta saiu sincera de sua boca, com emoção.
  Ambos continuaram parados, se encarando por algum tempo.
  - E agora? – Perguntou o pequeno, quebrando o silêncio que pesava.
  - Agora, infelizmente é a sua vez.
  Um, no máximo dois segundos, se passaram e enfim um movimento. A criança-vampira em um gesto rápido e emitindo um som animalesco enfim mostrou o que realmente era saltando para cima do caçador que pode ver nos olhos daquela frágil imagem infantil que ali não mais habitava uma alma pura e inocente, mas sim um demônio de presas e olhar de fogo. Talvez se não encarasse tal verdade não teria coragem de fazer o necessário, mas o fez. Com um movimento incrivelmente rápido, que treinara dias após dias desde o início de sua preparação, cruzou a lâmina de prata de sua espada da esquerda para direita no alto, cortando o ar, e decepando a cabeça daquele garotinho, que caiu ao chão, estrebuchando, enquanto sua cabeça rolava para perto do que antes fora a criatura adulta. Enquanto seu corpo se desfazia, o caçador encarava o que ocorria quase sem piscar. No chão o fim de dois vampiros. Em sua mente ouvia as congratulações de seu pai que sempre foram raras e por isso dava tanto valor a elas. Aproximou-se do corpo já se desfazendo. Soltou a espada e ajoelhou, erguendo o corpinho em seus braços, olhando fixo, e pela primeira vez não se conteve e chorou em uma caçada.
Lembrava de mais uma regra que seu pai fazia questão de sempre deixar bem clara: “Depois que é condenado a se tornar uma criatura da escuridão, nunca mais voltará a ser o que foi em vida, não espere por um milagre”.
A caçada fora sucedida, mas sentia que fracassara. Na verdade, tinha certeza. Sim... Fracassara ao deixar que isso ocorresse. Chorando, desabafou:
  - Perdão... Perdão por deixar isso acontecer a vocês, mas agora suas almas poderão descansar em paz... Meu filho. – Abraçou forte o que ainda restava de sólido, sujando todo seu peito com o sangue que escorria por todas as partes do corpo em decomposição.
  A casa que um dia servira de morada para uma bela família, um casal com seu único filho de sete anos, agora era o mesmo local que enegrecido pela noite, e tomado pelo mal, abrigava o fim derradeiro para aqueles moradores.
Culpava-se por deixar sua bela mulher cair nas mãos de um vampiro, que apenas pelo deleite de vê-lo sofrer, a levou para as trevas, mesmo a coitada nunca sabendo que ele era um caçador. Lamentava-se por não seguir a promessa feita ao pai em seu leito de morte, e não treinar o filho para o momento que fosse necessário. Temia tornar-se frio e rígido com o garoto assim como seu pai fora com ele. Queria dar ao primogênito o que nunca teve, uma vida normal, o direito de ser uma criança como as outras. Mas arrependia-se amargamente naquele momento por tal decisão. Talvez, se o pequenino soubesse o que estava para acontecer, faria algo para evitar, estaria preparado.
Chorando, ouvia em sua mente o seu pai dizendo: “Tanto o vampiro quanto o caçador são seres amaldiçoados. Um por ser dominado pelo mal e o outro por ser obrigado a sacrificar sua vida para caçá-los. E como todo amaldiçoado, ambos só se verão livres de tal tormento quando chegar ao fim de suas próprias existências”.
Seu pai estava certo, e mais que certo, como sempre. Diante do que um dia fora sua família, o homem, mais que fragilizado, com sua expressão cansada e as lágrimas escorrendo em abundância, ergueu a espada mais uma vez, já com sua lâmina suja do sangue das pessoas mais importantes de sua vida, e levou até a altura do próprio pescoço.
  - Logo estarei com vocês, meus anjos. – Brotou um singelo sorriso.
  Em um movimento rápido, a lâmina cruzou horizontalmente seu pescoço. Quase que instantâneo, caiu chocando a face contra o chão. Rapidamente, uma poça de sangue formou sob seu corpo e não demorou a falecer.
Um silêncio tenebroso tomou todo o local.
Enfim, livrara sua família do mal...
Enfim, estava livre de sua própria maldição.

Fim

4 comentários:

  1. Olá, Cara, seu conto é enigmático e muito assustador... Parabéns!

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  2. Saudações, Carol!! Que bom que curtiu!! Há mais contos de minha autoria no blog... Caso queira, dê uma lida, ok?! ;)....

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  3. Estou lendo seu conto querido,tenho certeza que vou gostar!!

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  4. Oi sou faby lee,estou adorando esse Blog!!Cara é muito bom!!

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