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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"Doce Inocência" - (Conto de minha autoria)

Saudações, noturnos!!

Como estão?!

Peço imensas desculpas pelo sumiço, pela falta de atualizações, mas a correria de trabalho está muito grande, mas prometo não me ausentar tanto!!

Nesta postagem tenho o orgulho de apresentar a vocês mais um conto de minha autoria, este eu estava criando para postar no Halloween, mas a falta de tempo não permitiu.

O conto intitula-se "Doce Inocência".

Peço por gentileza que não utilize em sites, blogs ou impressos o conto sem minha permissão.

Espero que gostem!!

Quem quiser, me siga no twitter: www.twitter.com/kamposss

A maldade é a essência do que sou!!


Kampos

Conforme a noite invadia, as ruas ficavam cada vez mais infestadas de monstros e criaturas horripilantes, mas também de astronautas e palhaços. Era Halloween e as crianças começavam aos montes irem pelas casas atrás dos preciosos doces.
- VAMOS AGORA NAQUELA CASA!- Gritou o garoto que saira correndo desvairado segurando com uma das mãos o chapéu para que o mesmo não caísse de sua cabeça.
Entre todas do quarteirão era a única casa sem abóboras esculpidas com expressões de medo ou sátira ou com esqueletos e fantasmas pendurados. Ficava devendo também na iluminação, sem nem mesmo uma lâmpada que iluminasse a entrada.
- ME ESPERAAAA!! A MAMÃE DISSE PARA VOCÊ NÃO ME DEIXAR SOZINHA!! – Reclamou a pequenina garota que o seguia carregando sua cestinha em formato de abóbora.
Em frente a um portão de cercas baixas o garoto permanecia parado, admirando a residência à frente, logo acompanhado por sua irmãzinha que o alcançara.
- Para de correr na frente, senão conto para a mamãe!! – Com expressão de quem iria chorar, advertiu a menina.
- Deixa de ser chorona, e vamos lá. – Nem bem terminou sua sentença, o moleque já avançava em direção a grande porta de madeira que dava entrada à casa, que assim como seu gramado que visivelmente não recebia a atenção devida há meses, também não estava nem um pouco bem cuidada, parecendo que seus rachados, sujeiras pelas paredes e o péssimo estado foram feitos propositalmente para a data, mas que na verdade, estava em mal estado de conservação há anos.
- A mamãe disse para irmos só às casas dos vizinhos conhecidos.
- Deixa de ser bobona! Estamos perto e aqui ninguém mais está vindo... Deve ter muitos doces para nós!
- Ainda acho que a mamãe não gostaria disso...
- Fica quieta e vem comigo!
Ambos se aproximavam da porta, terminando de atravessar o gramado sem perceberem que já eram observados.
Ele sorria.
Frente à entrada, o garoto procurou por campainha, mas sem sucesso, enquanto sua irmã permanecia com olhar de reprovação. Logo, bateu à porta, e na ansiedade, repetiu quase que em sequência.
Para espanto da dupla, a porta de madeira grossa e que um dia fora pintada de branco, abriu lentamente, revelando apenas um breu e não muito distante uma mesinha de madeira envelhecida, contendo sobre ela o prêmio, dois chocolates em barra.
Por um instante, as crianças permaneceram paradas a olhar, afinal, ninguém aparecera para recebê-los.
Na dúvida, o garoto fez seu papel:
- Gostosuras ou travessuras?... – Correndo os olhos pelo ambiente escuro, mas ninguém parecia se interessar por sua indagação.
Ele estava a observar, mas elas não podiam vê-lo, mas ele as via muito bem. Duas criaturinhas pequenas. O garoto, de no máximo dez anos, de olhos claros e de corpo esbelto e a sua parceira de aproximadamente sete anos, olhos também bem claros e cabelos cacheados.
Um cowboy e uma bailarina, respectivamente.
- Acho melhor não entrar. – A pequena garota disse, enquanto buscava proteção na mão do irmão.
O garoto a princípio não contestou, apenas a princípio:
- Mas são doces! E olha, um para cada! Uma barra grande de chocolate para você e uma para mim. – Dito isso, deu o primeiro passo para o interior da casa vidrado na mesinha logo à frente e, como segurava firme a mão de sua irmã, a pobrezinha não tinha outra escolha, a não ser acompanhá-lo.
- Acho que a mamãe não gostaria que fizéssemos isso... – Sussurrou a pequena bailarina.
- Pronto, viu!! É só pegar os chocolates e sair... – Ele interrompeu a sentença quando para sua surpresa viu logo adiante mais doces sobre outra mesa, muito parecida com a primeira e, desta vez, não apenas uma simples barra para cada um, mas um pequeno amontoado de guloseimas, entre elas: Chocolates, balas e chicletes. Os olhos da criança brilharam, tal visão o seduziu de imediato.
- Olha lá!! – Disse, apontando para os doces. – Vamos pegar!
- Tem certeza? – Perguntou a garota assustada.
- Claro! – Ambos caminharam mais à frente sobre o assoalho de madeira que rangia a cada passada, parecendo que a casa ganhara vida, gemia, e sem notarem, adentravam cada vez mais ao breu daquela morada pouco mobiliada, fria e com quadros antigos em suas paredes que, pelo desgaste, pareciam cartazes de filmes de horror.
Alguém sorria discretamente enquanto assistia a cena.
O garoto não pensou duas vezes. Sem menor cerimônia, começou a pegar os doces e guardar em sua sacola que até então estava em um de seus bolsos.
- Toma, estes são seus.
A garotinha pegou e guardou em sua cesta, calada.
E como antes, o pequeno cowboy ao correr os olhos fora seduzido mais uma vez. Era um jogo de gato e rato e, no momento, o felino se deliciava ao ver os ratinhos indo para sua armadilha. À poucos metros, uma porta entreaberta e, entre o vão da mesma, muitos doces como se simbolizassem um caminho para o grande tesouro.
- Mais! Não acredito! Que sorte! – O garoto sorria e começava a puxar sua irmã em direção a porta, quando sentiu uma pequena resistência e olhou para trás.
- A mamãe vai ficar brava... – Advertiu a bailarina de rosto branquinho e angelical e de olhos arregalados, como se sua expressão enfatizasse mais a proibição imposta por sua mãe.
- Ela nem precisa ficar sabendo! - E como se aquelas palavras resolvessem toda a questão, ele a puxou ainda mais forte e ambos foram em busca das preciosidades.
O determinado cowboy tratou de pegar todas que encontrara no chão e, curioso, abriu mais a porta, pois já imaginava o que veria... Mais doces que seguiam pelos degraus de madeira.
- Lá embaixo tem mais! – Disse olhando para a irmã, justificando o porquê de começar a descer.
- A mamãe não vai gostar... – Ela não cansava de enfatizar e ele, de ignorar.
Quando enfim venceram todos os degraus da velha escada, encontraram um porão sujo, empoeirado, com muitas tralhas, escuro e apenas um lugar parecia mais iluminado, propositalmente... Uma mesa repleta de guloseimas. A imagem foi tão hipnótica que nem mesmo reparou na existência de um pequeno monitor ligado mostrando imagens dos ambientes da casa no canto do porão.
- MAIS DOCES! – O garoto não pensou duas vezes e correu em direção à mesa. Sua irmã soltou de sua mão permanecendo ao pé da escada.
Enquanto se preocupava em juntar a quantidade maior que pudesse de balas, chocolates e pirulitos, nem percebera a figura que enfim aproximava-se de seu lado direito sorrateiramente, mas a menina, que permanecia ao longe sim, e o alertou:
- TEM ALGUÉM AI! – Porém, tarde demais.
O menino assustou-se e olhou rapidamente para o lado, foi quando, em um movimento rápido, levou uma paulada na cabeça que lançou seu chapéu para longe e o pequenino foi de encontro ao chão com toda a força.
O cidadão percebendo que o garoto permanecera imóvel levou seu olhar para a garotinha que logo percebera que era seu novo alvo.
- Venha cá, meu bem... venha... O tio não lhe fará mal... Vamos brincar!! – Dizia a figura alta, de aproximadamente cinquenta e poucos anos, com roupas sociais, meio grisalho, com voz rouca, maliciosa e, mesmo com o pouco de luz, era possível ver seus olhos brilharem de forma macabra, se aproximando cuidadosamente para não espantar um dos ratinhos da armadilha.
Por um ou dois segundos a garota apenas olhou e, só então, em um movimento brusco, deixou a cestinha cair ao chão e virou-se rapidamente para a escada, começando a subir degrau por degrau, algo que o cidadão não permitiria.
- VENHA CÁ, SUA DESGRAÇADA! – Gritou de forma lunática.
Quando pensou em correr, tropeçou na perna do garoto, dando assim, uma pequena vantagem a pequenina.
- DROGA! – Berrou, quase babando, em seguida chutando o desfalecido, e ganhando velocidade, indo à caça, enquanto a mesma terminava de subir os degraus.
Nunca permitiria que ela escapasse. Outras tentaram e não conseguiram. Ele tinha experiência suficiente nisso. Essa era sua época favorita. Não precisava espreitar por entre arbustos de parquinhos pelos bairros e nem dialogar, bastava deixar o doce que elas vinham até ele. Tinha o trabalho de ano após ano mudar de cidade, de desaparecer da cena do crime, mas aquela noite fazia valer à pena e não deixaria qualquer pirralha escapar e muito menos pedir socorro, ele tinha planos para ela e para seu irmãozinho... Planos breves, pois se saciava de sua perversão rapidamente e logo se desfazia das pobres carcaças. Mas era bom que fosse rápido, porque a pequena aproximava-se da porta principal por onde entrara com o irmão e logo ganharia as ruas, provavelmente gritando e chorando por ajuda, por sua mamãe.
- VOCÊ NÃO VAI SAIR!! – Exclamou com toda a força de seus pulmões.
A menina não olhava para trás, apenas corria o mais rápido que suas pequenas pernas permitiam e logo conseguira seu objetivo, alcançara a porta.
Quando o cidadão pensou em saltar em uma tentativa frustrada de impedir sua fuga, reduziu ao ver a garotinha parada, fechando a porta lentamente e a trancando pelo lado de dentro.
A expressão de seu rosto que antes deixava clara as intenções demoníacas agora demonstrava dúvida, surpresa, sem entender o porquê da garota se trancar no interior junto a um tarado que acabara de desacordar seu irmão.
A menininha se virou e com seu rosto inocente, parecendo não se preocupar com o que ocorria, advertiu:
- A mamãe sempre disse que é feio enganar as pessoas... A mamãe sempre disse que os adultos não devem bater em crianças... A mamãe sempre disse que pessoas assim devem ser punidas.
Provavelmente, em nenhum momento de sua vida, aquele senhor, que para muitos era bem apessoado, sentira um frio percorrendo a espinha como naquele instante. Foi a primeira vez que encarou os olhos de uma criança e não viu um anjo, não viu uma vítima, não viu o medo, uma presa, mas sim, uma predadora.
- Não entendo... – Confuso, o cidadão olhava fixo para a inocente bailarina.
- É como ela disse, moço... Pessoas más devem ser punidas.
A voz vinha das escadas que davam acesso ao porão.Ele olhou rapidamente a ponto de ver o garoto surgindo, ainda com um ferimento enorme na testa que, no mínimo, era para deixá-lo desacordado por horas ou até mesmo morto. Ele também não tinha mais aquela expressão simples de um moleque bagunceiro, mas sim de algo mais poderoso, que somado às sombras, tornavam a cena ainda mais assustadora. O sangue de sua cabeça escorria em abundância e parecia que aquela pequena pessoa não se importava, pelo contrário, passava a língua pela região dos lábios quando percebia que mais sangue se aproximava de sua boca. A criança simplesmente terminara de vencer os degraus e parou, olhando fixo para aquele que antes o agredira.
- E-eu não entendo... – Uma gota de suor em sua testa deixava claro que a situação o preocupava.
- Nós já vamos explicar! – Disse o pequeno cowboy arreganhando a boca, deixando evidentes seus dentes alongados, principalmente os caninos, e os olhos brilhando em fúria, não mais lembrando o semblante de uma simples e inofensiva criança. Com um grito animalesco, partira para cima do homem, agora amedrontado, com um único salto e cravara os dentes em seu braço direito, usado como escudo no reflexo de se proteger da criatura em forma infantil.
- DESGRAÇADO!! – Gritou a vítima, mais por dor e medo do que por ódio.
Quando olhou para o outro lado em busca de algo que o ajudasse a se livrar dos dentes que rasgavam seu braço, deparou-se com a garotinha, bem próxima e isso o deixou ainda mais aterrorizado.
- A mamãe diz que é feio falar palavrão. – E desta vez, quem mudou de expressão fora ela, com seus dentes alongados como os do irmão, puxou com uma das mãos o homem para baixo com uma força assustadora, deixando-o de joelhos e levando rapidamente a cabeça para trás como se buscasse impulso, voltando com toda ferocidade seus dentes contra a jugular daquele que não mais se sentia superior. Enquanto era mordido várias e várias vezes, o homem lutava, usando apenas o braço esquerdo que estava livre. Tentava agredi-los, mas ambos pareciam não sentir mínima dor, demonstravam-se extremamente focados pelo sangue que escorria pelos rasgos ocasionados pelos ataques. Lambiam qualquer filete de sangue que aparecesse. O consumiam com desespero, pareciam viciados no líquido avermelhado que surgia em grande quantidade.
Neste ponto, o homem já não gritava mais, logo, não estava mais de joelhos, não tinha mais forças para isso, e deixara seu corpo cair ao chão, e as crianças, que até a poucos minutos se preocupavam com os doces, agora tratavam de sugar todo o sangue que pudessem daquele corpo praticamente já morto.
Enquanto sua vida era retirada, corria os olhos para o garoto e em seguida para a menina, e em seus rostos, como se fosse julgado, via cada rostinho de criança que um dia abusara. Elas olhavam para ele e riam, debochavam, sentiam-se vingadas, e ele nada mais podia fazer, a não ser aceitar seu inevitável fim que veio no momento em que a pequena bailarina arrancou com uma das mãos o seu coração.
E como tudo começou, terminou.
- Vamos... A mamãe deve estar preocupada. – Disse, já de forma natural, a menina, que não mais importava para o ser estirado à sua frente, tentando limpar com um dos bracinhos o sangue que insistia em marcar seu belo rosto.
O garoto demorou pelo menos um minuto para responder e só o fizera quando percebeu que não havia mais sangue a ser sugado.
- Vamos.
Ambos se levantaram e começaram a caminhar em direção a porta da saída. O irmão ajeitando um pouco a roupa da garota que ficara amarrotada em meio ao banquete sanguinário. Logo cruzaram a porta e enquanto saiam da casa, a garotinha, sem aviso, parou de forma brusca, e espantada, disse:
- Espera!
- O que foi?
A pequenina não respondeu. Apenas saiu correndo para o interior da residência novamente, deixando o irmão esperando, não por muito tempo, e voltando, porém, com um sorriso de alívio no rosto.
- Podemos ir... Fui buscar minha cestinha de doces. – Sorriu, voltando a caminhar de mãos dadas com o irmão, como se nada ocorrera, como faziam em todas as noites de Halloween nas últimas doze décadas.

Fim

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