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domingo, 20 de março de 2011

"O Fim do Começo" - (Conto de minha autoria)

Saudações, notívagos!

Nesta postagem apresento à vocês mais um conto de minha autoria, porém, este, não é com temática vampírica, mas ainda sim sobrenatural.

O conto intitula-se "O Fim do Começo".

Espero que gostem e comentem!

(Peço a gentileza de todos que não utilizem o conto em outros meios ou blogs sem minha permissão).

Quem quiser, me siga no twitter: www.twitter.com/kamposss

Não olhe para os lados, para cima ou para trás. Só me verá quando eu assim permitir.

Kampos

Suas mãos riam freneticamente, e seus olhos não acreditavam na insensatez que presenciavam. Cada palma apresentava uma pequena e horrenda boca de dentes tortos e deformados. Batia as palmas uma contra a outra, na tentativa de calá-las.
Berrava tentando pronunciar palavras pelo desespero do que via, porém, sem entender o porquê, não tinha o dom de dizê-las, e logo, nem mesmo poderia, pois foi acometido por ânsias intermináveis. Sentia que vomitaria todo o seu interior, mas para aumentar ainda mais seu tormento, de sua boca brotara uma cachoeira de putrefação. Água negra, viscosa, pedaços de carne e vermes que escorriam por seus lábios, queixo, de forma constante e ininterrupta.
A dificuldade em respirar era enorme, fazia força, e muita, para conseguir que algum ar chegasse aos seus pulmões, e para sua tristeza, o pouco de ar que recebia, parecia dilacerar seus órgãos.
E o medo obviamente o consumia.
Não entendia... Simplesmente não entendia....
As risadas de suas mãos continuavam, sem um segundo de silêncio e paz.
Começara a correr, sem rumo, sem equilíbrio pelos campos devastados, de troncos enegrecidos e céu avermelhado, descalço, em meio ao solo defeituoso, cheio de pedras e galhos secos que castigavam seus pés.
Destruição e incoerência. Imagens retorcidas e sem sentido. De suas roupas sobrara apenas um trapo e a sujeira em seu corpo era imensa.
Sem vida ao redor, sem horizonte para vislumbrar, apenas nuvens de poeiras e de fumaças que dançavam no céu escarlate.
No lugar de lágrimas, escorria sangue, e doía, a cada gota, um gemido, e a boca, insistia em liberar tudo o que era podre.
Não sabia para onde estava indo. Não sabia de onde viera. Não sabia o que acontecia.
Tinha medo de imaginar qualquer fosse a hipótese.
Caiu.
Nem percebera o tombo. Era como se de repente despertasse já ao chão, ou mais precisamente, naquela poça de líquido grosso, negro e fétido, que recebia cada vez mais do que saia de sua boca.
Ergueu seu tronco, quase indo ao chão novamente. Ao tentar prosseguir foi que percebeu. Não tinha como caminhar. E foi ao encarar o chão, que entendera o por que. Não mais possuía suas pernas. Ficaram apenas as coxas, cortadas, machucadas, com ferimentos expostos.
Seus olhos arregalaram ainda mais, se é que isso era possível, ao ver tamanho horror.
Não entendia... Simplesmente não entedia....
Como continuaria daquela forma?! E para onde tanto queria ir?! Teria um local que o salvasse de tamanha crueldade?!
Jogou-se ao chão e com as mãos, que insistiam em rir sem descanso de sua desgraça, rastejava com tremenda dificuldade e esforço. Sentia o peito rasgando contra o chão irregular.
Chorava, e sentia dor por isso. Respirava, e sentia dor por isso. Rastejava, e sentia dor por isso.
- Não tem para onde ir! – Disse uma voz que vinha junto ao vento quente, que parecia queimar sua pele.
Olhou para os lados a procura de quem dissera tais palavras.
- Não tem para onde ir! – A enigmática voz, de tom forte, repetiu junto ao vento. - Quer se livrar deste tormento?!
O homem chorou.
- Eu perguntei: QUER SE LIVRAR DESTE TORMENTO?! – Como um trovão, a voz rasgou o ar.
Juntando o resto de força com o desespero que sentia, aquele que rastejava respondeu:
- Si... Sim...
- Então livre-se de você mesmo!
O cidadão ficou sem entender.
- Este tormento é você... Livre-se de você mesmo!
Parecia não entender, até que suas mãos pararam de gargalhar e disseram:
- Se destrua... Se destrua...
- Está ai sua resposta. – Disse a voz que vinha de lugar nenhum e ao mesmo tempo de todos os lugares.
- Se destrua... Se destrua... – As mãos continuavam a insistir, com tom de quem evitava com esforço as risadas.
Com a cabeça, sinalizou negativamente.
- Se destrua... Se destrua...
Mesmo com todo tormento parecia temer ainda mais os braços da Morte.
- Se destrua... Se destrua...
- Não há outra saída... – A voz alertou.
- Co...como? – Perguntou em meio a engasgos com toda a sujeira que não cessava de sua boca.
- Permita que suas mãos ajam por você.
Olhou fixo para as próprias mãos. Aos poucos foi as aproximando de seu corpo. Onde havia uma pequena boca de dentes deformados em cada palma, viu, perplexo, as mesmas ganharem presas, enormes e a boca aumentar. Por mais que soubesse o que deveria acontecer, os braços tremiam, revelando que ainda relutava para deixar que as temíveis mãos se aproximassem, mas isso não durou por muito tempo. Logo foi abocanhado, sem dó, e com crueldade por ambas as bocas que dilaceravam seu pescoço para começar.
Tentava berrar, mas apenas se engasgava mais ainda.
A fumaça no céu, assim como a poeira, começou a se movimentar, aos poucos formando a imagem de uma criatura gigantesca que em lugar de olhos, possuía brilhos provenientes de relâmpagos internos, que observava a carnificina atentamente e que logo pronunciou:
- Mais uma vez você deixou suas mãos agirem. Mais uma vez elas pronunciaram o fim de alguém, porém agora, de um verdadeiro culpado, diferente de antes que com uma caneta em mãos condenava inocentes e ainda sentia prazer em espancá-los.
Enquanto isso, o homem se debatia, sem controlar os próprios braços e mãos que ainda o devoravam ferozmente e de forma frenética.
- Com suas palavras você destruía vidas, delatando falsas acusações, tudo por míseros ganhos materiais, pois que agora, engasgue com sua própria podridão.
E era o que ocorria. Quanto mais sentia as mordidas, mais o desejo de gritar surgia, e mais difícil ficava evitar engasgar com a carniça existente em sua boca.
- O choro de mulheres e nem mesmo crianças o comoviam, pelo contrário, você se deliciava, proporcionando assim mais dor para suas vítimas. Sinta em cada gota de sangue que escorre de seus olhos o que você proporcionou a quem torturou.
O homem chorava. Sentia extrema dor por isso, mas não tinha como evitar o sangue que escorria mais e mais de seus olhos parecendo ácido queimando a carne.
- Aqueles que suplicavam eram os que mais sofriam, encurralados, sem poderem fugir, assim como você, que agora não tem escapatória, sem pernas para correr do que teme.
Estirado ao chão, quase não possuía mais corpo. Sangue e pedaços de suas entranhas misturavam-se ao solo imundo. Os braços não mais estavam ligados a nada, mas continuam a devorar como duas imensas cobras. Logo consumiriam o crânio, e em seguida, um devoraria o outro.
- Para se livrar deste tormento, você precisa livrar de si próprio, porém isso nunca deixará de existir. A carcaça pode ser descartada, mas a essência podre do que você é sempre será a mesma. Não seja covarde e não tema a Morte, pois ela já o abraçou, e assim como suas vítimas nunca escapavam de sua crueldade, você nunca escapará de seu próprio inferno. – A criatura apontava com ódio, julgando o miserável pedaço do que já fora um homem rico e influente.
Sem mais o que fazer, fechou os olhos em meio ao tormento e dor, não sabia nem ao menos como continuava consciente já que tinha noção que seu corpo não mais existia, apenas a cabeça. Sentiu a mordida no crânio e o barulho do osso rachando e logo tudo se calou. Por alguns segundos temeu reabrir os olhos, mas logo o fez, e ao abri-los, torcendo para que aquilo fosse apenas um pesadelo, assustou-se ainda mais.
Suas mãos riam freneticamente, e seus olhos não acreditavam na insensatez que presenciavam. Cada palma apresentava uma pequena e horrenda boca de dentes tortos e deformados. Batia as palmas uma contra a outra, na tentativa de calá-las...

Mal sabia ele que já passara por aquilo milhares e milhares de vezes e o final era sempre o começo, pois sua sentença era de eterno sofrimento.

Fim

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