Saudações, imortais!!
Como todos estão?
2011 iniciou-se e minha inspiração parece ter renovado! O que é ótimo, assim nasce mais contos e estórias.
Nesta postagem apresento à todos vocês mais um conto vampírico de minha autoria, intitulado "Sob as constelações".
Espero que apreciem!
Peço, por gentileza, que não utilizem o conto (Seja blog, site ou impresso) sem minha autorização, ok?!
Quem quiser, me siga no twitter: www.twitter.com/kamposss
A morte é apenas mais um estágio, não tema e se entregue as minhas presas.
Como todos estão?
2011 iniciou-se e minha inspiração parece ter renovado! O que é ótimo, assim nasce mais contos e estórias.
Nesta postagem apresento à todos vocês mais um conto vampírico de minha autoria, intitulado "Sob as constelações".
Espero que apreciem!
Peço, por gentileza, que não utilizem o conto (Seja blog, site ou impresso) sem minha autorização, ok?!
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A morte é apenas mais um estágio, não tema e se entregue as minhas presas.
Kampos
Não foi o barulho do vento contra as folhagens das grandes árvores, nem o breu além das velhas paredes da casa que a assustaram, mas sim o salto repentino de um de seus gatos pela janela, caindo desajeitado sobre a louça que acabara de lavar, levando consigo um prato até o chão, o mesmo se despedaçando enquanto o felino sumia entre trombadas e deslizes em busca de um refúgio.
- Meu Deus, Aquila! Quer matar a mamãe de susto?! – Desabafou a senhora de muitas rugas, vestido florido, enquanto passava a mão em seus cabelos praticamente todos brancos presos em um coque.
Ela não via o felino, porém ele observava assustado o que sua dona fazia.
- É melhor limpar isso logo. – Caminhou em direção a porta da sala. Iria buscar no quintal uma pazinha e a vassoura para recolher todos os cacos de vidro ocasionados pela queda do prato.
A senhora abriu a porta sem se importar com o escuro do exterior e nem mesmo com algo que pudesse se manter oculto entre toda a vegetação existente em volta da casa isolada. Estava tão acostumada àquele lugar deserto que sua maior preocupação era apenas os insetos em noites quentes que insistiam em atormentá-la.
Saiu lentamente para o quintal, vencendo os dois degraus que existiam frente à porta. A pazinha, juntamente com a vassoura, encontrava-se logo à frente, encostada na parede, perto de uma pequena horta. Curvou-se para pegá-la apoiando-se na vassoura, liberando um gemido ocasionado pela idade. Ao mesmo tempo, o corpo arrepiava-se pelo vento gelado que chegara subitamente como se anunciasse a presença de algo não desejado.
Ao erguer o corpo novamente, um novo gemido, que já acostumada, não deu importância. Seguiu em direção a porta para adentrar esperando que o arrepio abandonasse seu corpo cansado quando se encontrasse no calor interno de seu lar mais uma vez.
Ao vencer os dois degraus foi surpreendida por um peso repentino em seu ombro esquerdo. Para seu espanto, uma mão repousava sobre o mesmo. Virou-se com expressão assustada.
- Boa noite! – Disse aquele o qual seu olhar encontrou.
- Bo... Boa noite. – Foi inevitável o gaguejar da podre senhora assustada que em sinal de defesa terminou de adentrar a porta de casa com um passo singelo para trás.
- Não era minha intenção assustá-la. Perdoe-me. – Desculpou-se, retirando rapidamente a mão do ombro da senhora.
Buscando se acalmar, a senhora liberou um sorriso sem graça.
- Não foi nada... Só não esperava alguém por estes cantos há esta hora.
- Imagino... Por isso cheguei até sua residência. Meu carro enguiçou na estrada, e já passei mais de horas caminhando a procura de socorro. Logo a noite caiu e estou, para dizer a verdade, perdido. Meu celular parece não pegar nesta região. – Disse o rapaz cabisbaixo, talvez pelo cansaço do tempo que caminhou.
Enquanto conversavam, pequenos olhos acompanhavam, atentos, o desenrolar, buscando a todo o momento permanecerem ocultos.
- Ah, meu filho... Aqui não pega essas coisas não. Nem telefone eu tenho.
- Entendo. – O jovem rapaz demonstrou certa frustração em sua face ao ouvir tal informação, o que não passou despercebido pela senhora.
- Olha, meu falecido marido, que Deus o tenha em um bom lugar, costumava mexer nesses rádios de caminhões, amador, acho que é assim que ele chamava. Se quiser, pode tentar pedir ajuda por ele. – Decidira oferecer assistência depois de uma breve análise na aparência do jovem homem. Estava bem vestido, todo de preto, com camisa, calça e um par de botas muito brilhantes. Por sorte também usava um sobretudo, o que era bom já que o frio castigava e muito naquela noite. Cortou o coração da senhora não só a expressão de desânimo, mas o quanto o rapaz estava pálido e com a mão gelada. O frio devia estar castigando o pobre coitado. E também, intimamente, fazia tanto tempo que não tinha companhia de outra pessoa, que seria bom trocar algumas palavras com alguém que respondesse com mais que um simples miado.
- Agradeço se a senhora permitir que eu use o rádio de seu falecido marido.
- Tudo bem... Pode usar sim.
O rapaz permaneceu na entrada da casa enquanto a senhora adentrava mais ao cômodo.
- Você não vem? – Perguntou, vendo que o rapaz permanecia no quintal.
- A senhora permite que eu entre em sua residência?
- Claro... Fique a vontade.
O rapaz liberou um leve sorriso de satisfação, e com o pé direito, preparava-se para adentrar ao recinto, quando, praticamente de lugar algum, um gato cruzou suas pernas, arrepiado, com um miado forte e intimidador, entrando na sala desesperadamente. O rapaz permaneceu com o pé erguido, evitando assim pisar no felino.
- Lyra, quase derrubou o rapaz! Coisa feia! – A senhora chamou a atenção do pequeno gato que já se escondera em algum canto.
- Desculpe! Por favor, entre.
Enfim, o rapaz de negro locomoveu-se para o interior quente da humilde residência.
- Vou buscar o rádio... Aguarde um momentinho. – Disse a simpática senhora enquanto sumia em uma porta mais a frente.
O rapaz ficou parado, em pé, de mãos unidas, no centro da sala, observando. Não demorou a reparar as várias caixas de madeiras, repletas de areia, espalhadas pelos cantos, além de tigelas de metal e plástico, na sua maioria amassadas, com água e comida. Mas para ele o que mais chamou a atenção foram os olhares atentos e julgadores. Logo, um a um foi identificando aqueles que o observavam. Felinos, diversos, espalhados, escondidos.
Assim como era encarado por olhos arregalados, ele os encaravam, um por vez, testando sua supremacia, sua superioridade. Poucos eram aqueles que o desafiavam liberando um breve miado ameaçador. Alguns, ao cruzar o olhar com o cidadão sério e pálido, buscavam se esconder ainda mais, outros permaneciam estáticos.
A sala era repleta de esconderijos para os gatos. Alguns sofás, uma estante de madeira velha, cheia de bugigangas, muitos porta retratos com fotos velhas e na maioria, pretas e brancas. Enfeites lembrando gatos também eram em grande número.
- Aqui, meu filho. – A senhora surgiu, sem a pazinha e vassoura, mas com o aparelho meio empoeirado em mãos, e sobre ele, um gato gordo, relativamente grande, com pêlos puxados para o amarelo alaranjado. - Não sei como liga esta coisa, então dê uma olhadinha você.
- A senhora gosta muito de gatos, pelo que vejo.
- Ah, sim! São minhas paixões, como filhos para mim! Cuidam de mim e espantam maus espíritos.
- Sim... Felinos possuem um dom aguçado para identificar a presença do mal. – Complementou o rapaz, enquanto olhava fixo para o gato sobre o aparelho. – E esse, quem é?
- Esse é o Orion. Meio preguiçoso, mas um amor de gato.
- Interessante... Mais um com nome de constelação.
- Pois é! Meu marido gostava muito de olhar para o céu... Sempre buscou conhecer todas as constelações. Quando jovens, passávamos noites deitados em meio à grama e ele me mostrando e identificando cada uma que era possível ver. Todos os meus treze gatos possuem nomes de constelações: Orion, Aquila, Lyra, Cassiopea, Corvus, Hercules, Mensa, Lupus, Perseus, Tucana, Virgo, Apus e Aras. – A senhora entregava o rádio para o rapaz, com o gato insistindo em permanecer sobre o mesmo, mas no momento que foi pegá-lo, foi surpreendido pela pata veloz do felino, que em um salto, o arranhou em seu rosto, perto do olho esquerdo.
- ORION! NÃO FAÇA ISSO COM O MOÇO!!
Rapidamente, o gato saltou de cima do rádio amador, sumindo entre os móveis da sala.
O rapaz levou rapidamente a mão ao rosto, mas intimamente ansiava por estrangular e estripar a pequena criatura atrevida.
- Você está bem, meu filho?! Desculpe, eles não estão acostumados com visitas e se assustaram querendo me proteger. – A senhora tentava ver o ferimento no rosto pálido do rapaz de semblante fechado, mas o mesmo permanecia com a mão sobre o ferimento.
- Tudo bem... Foi apenas um arranhão.
- Deixe-me dar uma olhada... Vamos curar isso.
- Não necessita. – O rapaz retirou a mão que cobria o ferimento revelando que o mesmo não mais existia, nem sequer um vestígio.
A senhora ficou sem entender, jurava ter visto o ferimento claramente ser feito.
- Não entendo...
- Digamos que eu sare muito rápido. – O rapaz olhou fixo nos olhos da pobre senhora que assustada percebeu que algo de errado ocorria e que explicava bem as atitudes de seus gatos naquela noite fria. A voz daquele simpático e necessitado moço parecia ter mudado de entonação. Os olhos do mesmo eram como fogo, e unido ao sorriso de canto de boca, deixava o rosto com uma expressão macabra. Percebera seu erro ao julgar inicialmente aquele que convidara a entrar em sua residência. Preocupou-se com sua vestimenta, quando deveria ter encarado seus olhos, que até o momento evitara cruzar com os seus para assim distinguir a alma daquela criatura e perceber que aquele ali parado em sua frente não pertencia ao bem, não buscava ajuda, mas sim o caos, a desordem e para seu temor, provavelmente trazia a morte consigo.
- Oh, Meu Deus... O que você quer? – Dizia com voz embargada. O rádio amador que segurava fora ao chão, quebrando algumas partes que se espalharam sob os móveis.
- Calma, só vim buscar ajuda... – Sorria de forma demoníaca.
- Que... Que tipo de ajuda?
- Do tipo que sacie a fome de um viajante noturno...
- Eu tenho muita comida na geladeira... Pode pegar e levar... Só não faça mal a mim e aos meus bichanos.
- Pois é... Ai está o problema. Comida congelada não faz parte de minha dieta. Eu prefiro algo mais quente... VIVO! – O rapaz sorriu, deixando evidentes os caninos alongados. Sem perceber, a senhora já se via agarrada pelos braços daquela criatura que a levou até o centro da sala, segurando-a de costas para ele.
- Deus do céu, me ajude! – Chorava, sentindo as pernas tremerem. Era muita emoção para uma senhora daquela idade. Sentia que não importava a força que fizesse, pois não se livraria dos braços gelados daquele ser maligno.
- Para sua infelicidade, durante os séculos que já passei, nunca vi alguém ter sua súplica atendida neste derradeiro momento. – Os dentes pontiagudos do vampiro roçavam o pescoço da senhora como um jogo de sedução, prestes a invadir o corpo de sua vítima. – Prefiro um alimento mais jovem, mas a senhora dará para o gasto até que eu encontre minha próxima refeição. – O vampiro enfim cravou as presas no pescoço da senhora com brutalidade, grudando seu corpo ao dela. Rasgara a carne, sem se importar com as súplicas de dor e nem mesmo o choro incessante.
Buscando uma última esperança de ajuda, a senhora correu os olhos pela sala e vira seus vários gatos, cada um em um refúgio diferente, assistindo, atentos, imóveis.
- Aju... Ajudem a mamãe! – Suplicou enquanto as lágrimas escorriam pelas rugas de seu rosto.
Como se atendesse de prontidão o apelo de sua dona, o mais improvável dos gatos, Orion, apareceu sobre o sofá e rapidamente saltou liberando um miado desafiador, até então desconhecido por sua dona, em direção ao agressor, que, mesmo ainda grudado ao pescoço da pobre senhora, interceptou o salto do felino com uma das mãos, agarrando-o pela cabeça.
O vampiro retirou as presas do pescoço da senhora, e com a boca escarlate, falou, enquanto encarava cada felino e erguia mais o gato que se debatia em sua mão:
- O sangue desta criatura a mim pertence... Porém a carcaça de carne, essa sim... Pertence a vocês. Tenham paciência ou o destino de vocês será o mesmo deste felino prepotente.
O gato teve sua vida ceifada com um simples apertão. O vampiro liquidara sua cabeça como se a mesma fosse feita de uma simples massa. O que sobrara do felino foi jogado ao chão.
Os outros gatos permaneceram em seus lugares, como se obedecessem e entendessem à criatura superior. A senhora lamentava pela morte de seu valente gato, mas percebera que dali não teria ajuda e caiu em prantos mais uma vez, misturando soluços com preces. O vampiro voltou a rasgar seu pescoço com as presas, sugando com fervor o líquido avermelhado e quente.
Não demorara muito até a pobre vítima já sem forças se calar, porém permanecia viva. O vampiro retirou suas presas do pescoço. Lambeu os lábios, buscando aproveitar o sangue que escapara.
- Me...me.. mate... – Com a voz extremamente fraca, em pé apenas porque ainda era firmemente segurada pelo vampiro, suplicou pela morte.
- Não... Já estou saciado, mas tem aqueles que ainda não estão... – O vampiro mordeu mais uma vez o pescoço da pobre senhora, desta vez não cravando as presas para se alimentar do sangue, mas sim para arrancar um grande pedaço da carne, deixando uma verdadeira ferida aberta. Tratou de ocasionar também ferimentos nos braços da senhora até que sangrassem. Em seguida, a criatura soltou a vítima que foi de encontro ao chão, ao lado do que restara de Orion.
- Agora são com vocês, pequenas criaturas. – Sorrindo, o vampiro se retirou da casa, não se preocupando em olhar para trás, sem remorsos de deixar a pobre senhora viva, e sem se importar com o triste fim que ela teria naquela sala.
A visão estava embasada. Sentia o pescoço latejar cada vez mais por causa da dor. Temia pelo que viria a seguir.
Os gatos permaneciam cada um em seu lugar, até o momento, como estátuas. Pareciam analisar a situação. Os prós e contras. Bastou o movimento sutil de um deles para aos poucos todos se revelarem, e lentamente abandonarem seus esconderijos. Um a um se aproximavam da dona. O primeiro chegou farejando... desconfiado... caminhando lentamente até o ferimento do pescoço de sua dona que acompanhava o movimento de seu gato pelo canto dos olhos, de onde escapava uma lágrima constante.
O felino de pêlos acinzentados farejou um pouco mais o ferimento e começou a lambê-lo.
- Corvus, aju... ajuda a mamãe... – Uma última tentativa desesperada de súplica, porém, sem êxito. O que antes eram lambidas calmas e até carinhosas, tornaram-se pequenas mordidas, puxando a carne vermelha já a mostra.
Logo, surgiram outros gatos que passaram sobre a senhora, indo atentos, hipnotizados até o ferimento. Não demorou a começarem a morder outras partes do corpo, principalmente os ferimentos dos braços. Sem forças para reagir, dos olhos da pobre vítima lágrimas escorriam, não só pelo seu trágico destino, não só por confiar em um estranho, mas sim por sentir-se devorada por sua família.
Assim como o céu da noite, logo sua visão começara a enegrecer e sobre ela apenas vira antes da visão deixar de existir, pontos que ironicamente lembravam estrelas, porém as mesmas unidas insistiam em devorá-la até o fim inevitável de sua vida.
- Meu Deus, Aquila! Quer matar a mamãe de susto?! – Desabafou a senhora de muitas rugas, vestido florido, enquanto passava a mão em seus cabelos praticamente todos brancos presos em um coque.
Ela não via o felino, porém ele observava assustado o que sua dona fazia.
- É melhor limpar isso logo. – Caminhou em direção a porta da sala. Iria buscar no quintal uma pazinha e a vassoura para recolher todos os cacos de vidro ocasionados pela queda do prato.
A senhora abriu a porta sem se importar com o escuro do exterior e nem mesmo com algo que pudesse se manter oculto entre toda a vegetação existente em volta da casa isolada. Estava tão acostumada àquele lugar deserto que sua maior preocupação era apenas os insetos em noites quentes que insistiam em atormentá-la.
Saiu lentamente para o quintal, vencendo os dois degraus que existiam frente à porta. A pazinha, juntamente com a vassoura, encontrava-se logo à frente, encostada na parede, perto de uma pequena horta. Curvou-se para pegá-la apoiando-se na vassoura, liberando um gemido ocasionado pela idade. Ao mesmo tempo, o corpo arrepiava-se pelo vento gelado que chegara subitamente como se anunciasse a presença de algo não desejado.
Ao erguer o corpo novamente, um novo gemido, que já acostumada, não deu importância. Seguiu em direção a porta para adentrar esperando que o arrepio abandonasse seu corpo cansado quando se encontrasse no calor interno de seu lar mais uma vez.
Ao vencer os dois degraus foi surpreendida por um peso repentino em seu ombro esquerdo. Para seu espanto, uma mão repousava sobre o mesmo. Virou-se com expressão assustada.
- Boa noite! – Disse aquele o qual seu olhar encontrou.
- Bo... Boa noite. – Foi inevitável o gaguejar da podre senhora assustada que em sinal de defesa terminou de adentrar a porta de casa com um passo singelo para trás.
- Não era minha intenção assustá-la. Perdoe-me. – Desculpou-se, retirando rapidamente a mão do ombro da senhora.
Buscando se acalmar, a senhora liberou um sorriso sem graça.
- Não foi nada... Só não esperava alguém por estes cantos há esta hora.
- Imagino... Por isso cheguei até sua residência. Meu carro enguiçou na estrada, e já passei mais de horas caminhando a procura de socorro. Logo a noite caiu e estou, para dizer a verdade, perdido. Meu celular parece não pegar nesta região. – Disse o rapaz cabisbaixo, talvez pelo cansaço do tempo que caminhou.
Enquanto conversavam, pequenos olhos acompanhavam, atentos, o desenrolar, buscando a todo o momento permanecerem ocultos.
- Ah, meu filho... Aqui não pega essas coisas não. Nem telefone eu tenho.
- Entendo. – O jovem rapaz demonstrou certa frustração em sua face ao ouvir tal informação, o que não passou despercebido pela senhora.
- Olha, meu falecido marido, que Deus o tenha em um bom lugar, costumava mexer nesses rádios de caminhões, amador, acho que é assim que ele chamava. Se quiser, pode tentar pedir ajuda por ele. – Decidira oferecer assistência depois de uma breve análise na aparência do jovem homem. Estava bem vestido, todo de preto, com camisa, calça e um par de botas muito brilhantes. Por sorte também usava um sobretudo, o que era bom já que o frio castigava e muito naquela noite. Cortou o coração da senhora não só a expressão de desânimo, mas o quanto o rapaz estava pálido e com a mão gelada. O frio devia estar castigando o pobre coitado. E também, intimamente, fazia tanto tempo que não tinha companhia de outra pessoa, que seria bom trocar algumas palavras com alguém que respondesse com mais que um simples miado.
- Agradeço se a senhora permitir que eu use o rádio de seu falecido marido.
- Tudo bem... Pode usar sim.
O rapaz permaneceu na entrada da casa enquanto a senhora adentrava mais ao cômodo.
- Você não vem? – Perguntou, vendo que o rapaz permanecia no quintal.
- A senhora permite que eu entre em sua residência?
- Claro... Fique a vontade.
O rapaz liberou um leve sorriso de satisfação, e com o pé direito, preparava-se para adentrar ao recinto, quando, praticamente de lugar algum, um gato cruzou suas pernas, arrepiado, com um miado forte e intimidador, entrando na sala desesperadamente. O rapaz permaneceu com o pé erguido, evitando assim pisar no felino.
- Lyra, quase derrubou o rapaz! Coisa feia! – A senhora chamou a atenção do pequeno gato que já se escondera em algum canto.
- Desculpe! Por favor, entre.
Enfim, o rapaz de negro locomoveu-se para o interior quente da humilde residência.
- Vou buscar o rádio... Aguarde um momentinho. – Disse a simpática senhora enquanto sumia em uma porta mais a frente.
O rapaz ficou parado, em pé, de mãos unidas, no centro da sala, observando. Não demorou a reparar as várias caixas de madeiras, repletas de areia, espalhadas pelos cantos, além de tigelas de metal e plástico, na sua maioria amassadas, com água e comida. Mas para ele o que mais chamou a atenção foram os olhares atentos e julgadores. Logo, um a um foi identificando aqueles que o observavam. Felinos, diversos, espalhados, escondidos.
Assim como era encarado por olhos arregalados, ele os encaravam, um por vez, testando sua supremacia, sua superioridade. Poucos eram aqueles que o desafiavam liberando um breve miado ameaçador. Alguns, ao cruzar o olhar com o cidadão sério e pálido, buscavam se esconder ainda mais, outros permaneciam estáticos.
A sala era repleta de esconderijos para os gatos. Alguns sofás, uma estante de madeira velha, cheia de bugigangas, muitos porta retratos com fotos velhas e na maioria, pretas e brancas. Enfeites lembrando gatos também eram em grande número.
- Aqui, meu filho. – A senhora surgiu, sem a pazinha e vassoura, mas com o aparelho meio empoeirado em mãos, e sobre ele, um gato gordo, relativamente grande, com pêlos puxados para o amarelo alaranjado. - Não sei como liga esta coisa, então dê uma olhadinha você.
- A senhora gosta muito de gatos, pelo que vejo.
- Ah, sim! São minhas paixões, como filhos para mim! Cuidam de mim e espantam maus espíritos.
- Sim... Felinos possuem um dom aguçado para identificar a presença do mal. – Complementou o rapaz, enquanto olhava fixo para o gato sobre o aparelho. – E esse, quem é?
- Esse é o Orion. Meio preguiçoso, mas um amor de gato.
- Interessante... Mais um com nome de constelação.
- Pois é! Meu marido gostava muito de olhar para o céu... Sempre buscou conhecer todas as constelações. Quando jovens, passávamos noites deitados em meio à grama e ele me mostrando e identificando cada uma que era possível ver. Todos os meus treze gatos possuem nomes de constelações: Orion, Aquila, Lyra, Cassiopea, Corvus, Hercules, Mensa, Lupus, Perseus, Tucana, Virgo, Apus e Aras. – A senhora entregava o rádio para o rapaz, com o gato insistindo em permanecer sobre o mesmo, mas no momento que foi pegá-lo, foi surpreendido pela pata veloz do felino, que em um salto, o arranhou em seu rosto, perto do olho esquerdo.
- ORION! NÃO FAÇA ISSO COM O MOÇO!!
Rapidamente, o gato saltou de cima do rádio amador, sumindo entre os móveis da sala.
O rapaz levou rapidamente a mão ao rosto, mas intimamente ansiava por estrangular e estripar a pequena criatura atrevida.
- Você está bem, meu filho?! Desculpe, eles não estão acostumados com visitas e se assustaram querendo me proteger. – A senhora tentava ver o ferimento no rosto pálido do rapaz de semblante fechado, mas o mesmo permanecia com a mão sobre o ferimento.
- Tudo bem... Foi apenas um arranhão.
- Deixe-me dar uma olhada... Vamos curar isso.
- Não necessita. – O rapaz retirou a mão que cobria o ferimento revelando que o mesmo não mais existia, nem sequer um vestígio.
A senhora ficou sem entender, jurava ter visto o ferimento claramente ser feito.
- Não entendo...
- Digamos que eu sare muito rápido. – O rapaz olhou fixo nos olhos da pobre senhora que assustada percebeu que algo de errado ocorria e que explicava bem as atitudes de seus gatos naquela noite fria. A voz daquele simpático e necessitado moço parecia ter mudado de entonação. Os olhos do mesmo eram como fogo, e unido ao sorriso de canto de boca, deixava o rosto com uma expressão macabra. Percebera seu erro ao julgar inicialmente aquele que convidara a entrar em sua residência. Preocupou-se com sua vestimenta, quando deveria ter encarado seus olhos, que até o momento evitara cruzar com os seus para assim distinguir a alma daquela criatura e perceber que aquele ali parado em sua frente não pertencia ao bem, não buscava ajuda, mas sim o caos, a desordem e para seu temor, provavelmente trazia a morte consigo.
- Oh, Meu Deus... O que você quer? – Dizia com voz embargada. O rádio amador que segurava fora ao chão, quebrando algumas partes que se espalharam sob os móveis.
- Calma, só vim buscar ajuda... – Sorria de forma demoníaca.
- Que... Que tipo de ajuda?
- Do tipo que sacie a fome de um viajante noturno...
- Eu tenho muita comida na geladeira... Pode pegar e levar... Só não faça mal a mim e aos meus bichanos.
- Pois é... Ai está o problema. Comida congelada não faz parte de minha dieta. Eu prefiro algo mais quente... VIVO! – O rapaz sorriu, deixando evidentes os caninos alongados. Sem perceber, a senhora já se via agarrada pelos braços daquela criatura que a levou até o centro da sala, segurando-a de costas para ele.
- Deus do céu, me ajude! – Chorava, sentindo as pernas tremerem. Era muita emoção para uma senhora daquela idade. Sentia que não importava a força que fizesse, pois não se livraria dos braços gelados daquele ser maligno.
- Para sua infelicidade, durante os séculos que já passei, nunca vi alguém ter sua súplica atendida neste derradeiro momento. – Os dentes pontiagudos do vampiro roçavam o pescoço da senhora como um jogo de sedução, prestes a invadir o corpo de sua vítima. – Prefiro um alimento mais jovem, mas a senhora dará para o gasto até que eu encontre minha próxima refeição. – O vampiro enfim cravou as presas no pescoço da senhora com brutalidade, grudando seu corpo ao dela. Rasgara a carne, sem se importar com as súplicas de dor e nem mesmo o choro incessante.
Buscando uma última esperança de ajuda, a senhora correu os olhos pela sala e vira seus vários gatos, cada um em um refúgio diferente, assistindo, atentos, imóveis.
- Aju... Ajudem a mamãe! – Suplicou enquanto as lágrimas escorriam pelas rugas de seu rosto.
Como se atendesse de prontidão o apelo de sua dona, o mais improvável dos gatos, Orion, apareceu sobre o sofá e rapidamente saltou liberando um miado desafiador, até então desconhecido por sua dona, em direção ao agressor, que, mesmo ainda grudado ao pescoço da pobre senhora, interceptou o salto do felino com uma das mãos, agarrando-o pela cabeça.
O vampiro retirou as presas do pescoço da senhora, e com a boca escarlate, falou, enquanto encarava cada felino e erguia mais o gato que se debatia em sua mão:
- O sangue desta criatura a mim pertence... Porém a carcaça de carne, essa sim... Pertence a vocês. Tenham paciência ou o destino de vocês será o mesmo deste felino prepotente.
O gato teve sua vida ceifada com um simples apertão. O vampiro liquidara sua cabeça como se a mesma fosse feita de uma simples massa. O que sobrara do felino foi jogado ao chão.
Os outros gatos permaneceram em seus lugares, como se obedecessem e entendessem à criatura superior. A senhora lamentava pela morte de seu valente gato, mas percebera que dali não teria ajuda e caiu em prantos mais uma vez, misturando soluços com preces. O vampiro voltou a rasgar seu pescoço com as presas, sugando com fervor o líquido avermelhado e quente.
Não demorara muito até a pobre vítima já sem forças se calar, porém permanecia viva. O vampiro retirou suas presas do pescoço. Lambeu os lábios, buscando aproveitar o sangue que escapara.
- Me...me.. mate... – Com a voz extremamente fraca, em pé apenas porque ainda era firmemente segurada pelo vampiro, suplicou pela morte.
- Não... Já estou saciado, mas tem aqueles que ainda não estão... – O vampiro mordeu mais uma vez o pescoço da pobre senhora, desta vez não cravando as presas para se alimentar do sangue, mas sim para arrancar um grande pedaço da carne, deixando uma verdadeira ferida aberta. Tratou de ocasionar também ferimentos nos braços da senhora até que sangrassem. Em seguida, a criatura soltou a vítima que foi de encontro ao chão, ao lado do que restara de Orion.
- Agora são com vocês, pequenas criaturas. – Sorrindo, o vampiro se retirou da casa, não se preocupando em olhar para trás, sem remorsos de deixar a pobre senhora viva, e sem se importar com o triste fim que ela teria naquela sala.
A visão estava embasada. Sentia o pescoço latejar cada vez mais por causa da dor. Temia pelo que viria a seguir.
Os gatos permaneciam cada um em seu lugar, até o momento, como estátuas. Pareciam analisar a situação. Os prós e contras. Bastou o movimento sutil de um deles para aos poucos todos se revelarem, e lentamente abandonarem seus esconderijos. Um a um se aproximavam da dona. O primeiro chegou farejando... desconfiado... caminhando lentamente até o ferimento do pescoço de sua dona que acompanhava o movimento de seu gato pelo canto dos olhos, de onde escapava uma lágrima constante.
O felino de pêlos acinzentados farejou um pouco mais o ferimento e começou a lambê-lo.
- Corvus, aju... ajuda a mamãe... – Uma última tentativa desesperada de súplica, porém, sem êxito. O que antes eram lambidas calmas e até carinhosas, tornaram-se pequenas mordidas, puxando a carne vermelha já a mostra.
Logo, surgiram outros gatos que passaram sobre a senhora, indo atentos, hipnotizados até o ferimento. Não demorou a começarem a morder outras partes do corpo, principalmente os ferimentos dos braços. Sem forças para reagir, dos olhos da pobre vítima lágrimas escorriam, não só pelo seu trágico destino, não só por confiar em um estranho, mas sim por sentir-se devorada por sua família.
Assim como o céu da noite, logo sua visão começara a enegrecer e sobre ela apenas vira antes da visão deixar de existir, pontos que ironicamente lembravam estrelas, porém as mesmas unidas insistiam em devorá-la até o fim inevitável de sua vida.
Fim
Rapaz parabéns pelo conto eu adorei cada vez mais inovando nas mortes \m/
ResponderExcluirCurti pra caramba
Impressionante!Esse foi o primeiro conto seu que eu li,e não pretendo parar por aqui!Parabéns!
ResponderExcluirSaudações, Agnes!!
ResponderExcluirQue bom que curtiu o conto!! Aqui no blog há outros contos de minha autoria.. Foque a vontade para lê-los!!
Espero que goste!! ;)....
Kampos